sábado, janeiro 07, 2006

Na estação

Piso os sapatos e os sapatos pisão o chão

Os pés estão acordados e os olhos que dormem ardem dentro de uma bola de sabão.

Espero eu de pé,

E como eu de pé, esperam outros na estação.

Tarda a hora e tardam as rodas do transporte camião.

A pele aperta-se, as rugas crescem e bate mais depressa o coração,

O pescoço estica-se, os olhos piscam e esfregam-se as mãos.

Nesta fila espera-se por um camião,

Como à entrada de um cemitério para que chegue o caixão.

Mas chega.

E chega o desabafo o sorriso e a rectidão,

Vamos entrar direitos, para a casa chegar a tempo do serão.

E entro como tantas outras vezes, de olhos do tecto ao chão,

Ergo a cabeça para um lugar vago, limpo, a cheirar a sabão.

Sentado vou embora, fujo da estação.

Deixo passar o tempo fixando folhas cheias de palavras chavão,

Distraiu-me nas ideias dos outros, de dor e paixão,

E tropeças tu, em mim, discretamente, sem me passares cartão,

Esgazeada, célere, fugindo para o canto como uma criança que corre para o sótão.

E deixas-te dormir, cansada, esgotada, cruzando as mangas bem no peito apertadas,

Fechas os olhos e a mente da canzoada,

E és minha agora, na ausência despertada.


(2/11/2005)

Poesia

Abraço

Abraço-me,
E só respiro silêncio.

No silencio,
Abraço-me como respiro.