quinta-feira, junho 26, 2008

Eu Sou... Deus

Eu,

Eu sou,

Eu sou Deus.

Estou a ter um aparente acesso de megalomania? “Ei, quem és tu para afirmar uma coisa dessas?”, perguntariam uns quantos de olhos esbugalhados sentidos de que perverti o sentimento de mediocridade imposto sobre todos nós... Mediocridade!! Sim ouviram bem. Repito: MEDIOCRIDADE, MEDÍOCRE. É o sentimento que nos tentam impingir. Tentam nos fazer sentir que somos uma criatura insignificante neste cosmos, que as dimensões do Universo nos reduzem a formigas, escravas da nossa própria racionalidade, que escavam túneis ou abrigos de cimento e madeira, alumínio e terra cota. Coitadas das formigas, que traumas psicológicos não terão em saber da sua pequenez no Universo. E os formigueiros que muitas espécies constróem? Será que elas estão conscientes dos efeitos sobre o mundo natural, que a construção de tais formigueiros acarreta? Da quantidade de solo que usam, da imensa poluição que os seus dejectos provocam, das devastações de plantas, folhas e animais que uma colónia de formigas causa para se manter viva? Estarão elas conscientes dos efeitos que podem provocar a longo prazo se continuarem a funcionarem assim, a agir desse modo? Dividirão elas o mundo em Mundo das Formigas e Mundo Natural? Ou tal divisão não é a nossos olhos perceptível? E se não a vemos quererá dizer que não existe? Ou só existem estes dois mundos porque os pensamos, porque os criamos num momento de insanidade psicológica, e nos deixamos levar pela ideia de tal ideia ser verdade? Será o nosso mundo realmente artificial?

Se somos seres Medíocres? Possivelmente, mas não vou generalizar e chamar medíocre aos outros. Vou só falar de mim. Vou só tomar-me a mim mesmo como exemplo, o único e verdadeiro exemplo que posso evocar, eu mesmo, a minha pessoa, a criatura que sou, ou que tentaram convencer que sou. Não sei onde vou chegar com esta atitude mas tenho que a EXPLORAR... tenho que a examinar, tenho que a observar e contemplar para me desvendar. Não quero partir de preconceitos formado pelos outros, vou partir dos preconceitos formados por mim, se algum realmente existir. Não me tomo por medíocre. Mas observo-me cheio de dificuldades perante o mundo. Não sou um poço de sabedoria, e tenho sérias dúvidas sobre tudo o que me foi ensinado. Como afirmou Descarte, “A minha única certeza é a de duvidar de tudo”, o mais alto grau de cepticismo psicológico. Mas mais uma vez estou a ir de encontro aos preconceitos formulados por outros. Como encaro eu esta afirmação sobre tudo por em dúvida? Será ela verdadeira para mim? Terá sentido tomar esta atitude só por que eu a ouvi falar e de alguma forma me reconhecer com a sua ‘verdade’, o sentido que sinto que nesta frase existe em mim? Que sentido faz para mim esta frase?

Duvidar do que é o amor, duvidar do que é a paixão, duvidar de todos os sentidos que se dão ás palavras, todos os significados. Aqui o silencio ganha por uma larga vantagem. Admitimos certas palavras como fazendo sentido na nossa vida. Temos que Amar. Temos que sentir compaixão pelos outros, pelos seres vivos, pelas plantas, pelo mundo inteiro. Teremos? A linguagem infiltrou-se-nos no pensamento e na forma de agir e não distinguimos uma coisa da outra. Unimos-las num mesmo ramo florido de sentimentos: Palavra, pensamento, acção.

Amor, sexo e paixão. Como se relacionam. O que é instinto aqui? O que é desejo aqui? O que dá prazer aqui? Para quê procurar cada uma destas palavras. Procurar amor. Procurar sexo. Procurar paixão. São estes os nossos guias na vida? A vida que pensamos ter e que pensamos pertencer-nos, é guiada por estas palavras? É nelas que fundamos a nossa existência, a forma como moldamos o nosso pensamento e as nossas acções? Que base é esta para nos fundarmos como seres?

Quem sou eu? Uma criatura medíocre perdida pelo Universo? Ou serei o próprio Deus, criador de universos, criador de vidas? Quem me defino ser?

Abandonarei todas as definições e tentarei partir em busca de uma definição pessoal, só minha? Ou deixo de pensar nas coisas definidas e tentarei encara-las sempre como indefinidas? Ou admito em todas as definições uma margem de indefinição?

Olho para mim e o que vejo? Que tenho tentado apaixonar-me por uma pessoa em particular. Mas qualquer rapariga seria uma pessoa ideal. Afinal é um ser humano, inserida numa sociedade semelhante á minha, e possivelmente tão carente do mesmo tipo de comportamento como eu. Conceitos de beleza acrescentam-se à minha definição de estar apaixonado, ou de inteligência, mais conceitos de saber-se comportar nesta e naquela situação, quando está comigo a jantar, quando saímos juntos com os amigos, e mais conceitos e definições sobre essa pessoa se vão formando à medida que vou criticando o que vejo. Começo a dizer o que gosto e o que não gosto na sua pessoa. E o que gosto começo a apreciar ainda mais e o que não gosto começo a detestar ainda mais. Ela não sou eu, e ao saber o que eu gosto nela, sorri, e ao saber o que não gosto nela, recolhe-se, e disfarça a sua forma de ser para evitar desanimar-me. E eu... faço exactamente o mesmo. Disfarçamos quem somos para nos agradarmos mutuamente. Fingimos ser o que não somos para sermos aceites.

Onde já vi eu este filme?

E depois, se nos aguentamos com este jogo por alguns anos, outros há que basta alguns meses, dizemos que aquela é a pessoa com quem devemos viver, devemos casar, devemos criar uma família. E neste fingimento de quem somos ou, de o que somos, acabamos por esquecer que isto é um jogo. Fingimos regras, simulamos comportamentos para nos suportar-mos mutuamente. E quando criamos uma família transportamos todo este fingimento, que em momentos se solidão, em momentos em que apenas nos temos que suportar a nós mesmos, sentimos que não estamos bem, que a experiência que temos criado não vai de encontro com o que sentimos. Que quando estou sozinho surgem desejos, surgem memórias de segurança adquirida no passado que não se adaptam ao presente, aquele momento de estarmos só no universo, e essa solidão não faz sentido, não se adequa com a normalidade de se ser feliz em sociedade e no mundo social . Somos os geradores dos nossos próprios conflitos e depois procuramos a origem. Esta PESSOA já não serve. O amor que existia fracassou. Não me entendo, já não sei quem sou e isolo-me. Reflicto. Sei que estou em busca de algo mas apercebo-me que não é do amor que me venderam. Imitar as formas de amor não é amar. Temos que descobrir esse amar não por imitação, não nos guiando pela autoridade das pessoas que pensamos serem felizes, mas guiando-nos por cada acção que tomamos. Estando atentos ao que fazemos com os outros e a nós mesmos, observando este fazer constante em que mergulhamos aprendemos a conhecer-nos, não como uma tábua rasa, em que esculpimos o que queremos ser, mas como a superfície de um lago que se agita para acomodar um pato que amara, um barco que passa, um balde que nos rouba a água. Que ao calor do sol se evapora, e que com o cair da chuva se renova.