segunda-feira, dezembro 06, 2010

Felizes os Infelizes que Escrevem

"Felizes os Infelizes que Escrevem."

É esta a unica ideia que me ocurreu ao fim de um ano e meio de ausencia do meu blog (ausencia da minha blogoesfera?) 

Atingi a minha felicidade soprema, o pináculo do que é ser feliz. E as pessoas felizes NÃO precisão de escrever. Escrever para quê? Se está tudo bem não tenho motivos nenhuns para expressar a minha felicidade. A felicidade é lamechas, é cobarde. Ninguem dá atenção a peÇoas felizes, pois elas não precisam de atenção. Elas já são os seus próprios centros de atenção. Atenção para elas mesmas.

Repararam na palavra peçoa? Aposto que repararam. Posso sorrir pelo facto de me chamarem ignorante? Posso rir enquanto penso no vosso absurdo de eu ter transgredido uma norma ortográfica? Pois estou mesmo a rir-me... de si o leitor... :-)) Obrigado por Ler.

Mas só os infelizes é que podem escrever. Só os infelizes é que podem escrever BEM. Só a ira, a raiva, a insatisfação, são sentimentos dignos de quem escreve. Só estes sentimentos podem alimentar linhas e linhas de palavras valiosas, provocantes, perfurantes, aguçadas e afiadas pela língua de quem possa estar lá no fundo, encharcado na merda da vida, nesse estrume que fertiliza a aura do escritor, onde as sementes da ira germinam em textos dignos de serem lidos. O escritor mergulha nesse estrume, esfregasse nessa amalgama, perfuma-se com essa imundice e cria... cria todas e tantas palavras. Cria tantas e outras todas palavras, só com o minério do seu lápis, com os músculos da sua mão e a insatisfação do seu cérebro.

Por que me tornei um feliz, um tó-tó com a barriga da felicidade pendurada ao peito, deixei de conseguir escrever. Deixei de achar piada a este acto de revolta, insatisfação que habita os seres com um cérebro demasiado grande, onde cabe todo o género de tolices. E nessas tolices cujo nome pode começar por Religião ou por Ciência ou qualquer Filosofia, escondemos a nossa Mesquinha Ignorância. Mesquinha, sovina Ignorância, pois ela é só nossa e tanto medo temos de a partilhar e de a admitir.

E então e, hoje, estou feliz? Acho que despertei a infelicidade que se escondia em mim...

Já mais, em tempo algum, quero voltar a ser feliz... NUNCA!